Doença inflamatória muito dolorosa, pertencente à família do reumatismo, a gota em geral afeta primeiro as articulações dos membros inferiores e depois as dos membros superiores, ocasionando avermelhamento, calor e inchação local. As primeiras crises manifestam-se à noite, precedidas pela ingestão excessiva de alimentos ricos em purina (proteína) e em ácido úrico, como também pela ingestão de bebidas alcoólicas e devido ao uso de certos medicamentos alopáticos (diuréticos), a trauma e a cirurgia. Caracteriza-se por uma dor articular aguda, normalmente unilateral, que pode acentuar-se no período da madrugada até o amanhecer, ou durante a realização de um esforço físico. A crise dura de quatro a sete dias, podendo prolongar-se além desse tempo; se for muito intensa, o seu agravamento pode ocasionar febre baixa e calafrios.
Relacionada a fatores hereditários – em alguns casos, doença familiar –, alimentares e individuais, a gota é ocasionada pela elevação da concentração de ácido úrico (produto final do metabolismo das purinas orgânicas e alimentares) e derivados (uratos) no sangue e pelo seu depósito nas articulações e ao seu redor, na forma de cristais de monourato de sódio, que originam grumos inflamatórios, o que favorece o desenvolvimento da artrite gotosa. A gonartrose (artrose do joelho) é um bom exemplo desse problema.
O fato de uma pessoa apresentar níveis elevados de ácido úrico no sangue não implica que seja portadora de gota. No sangue, o ácido úrico interage com o sódio, dando origem ao urato sódico. Os cristais de monourato de sódio podem depositar-se na membrana sinovial (fina membrana que umedece, nutre e forra o interior das cápsulas das articulações móveis), nas cartilagens, nas articulações, nas estruturas periarticulares, nos ossos, nos tecidos subcutâneos, nos tendões, nos rins e em outros tecidos do corpo, causando inflamações e danos.
Entre as doenças crônicas e as metabólicas, a gota é uma das mais controláveis, porém podem ocorrer crises esporádicas com intervalos agudos variáveis e imprevisíveis, principalmente, quando o problema não é tratado de forma adequada e efetiva. Crises muito frequentes podem vir a causar lesões e alterações nos ossos e nas cartilagens das articulações.
Gota é mais comum no homem
A gota é uma doença mais frequente no sexo masculino (95% dos casos) e em geral manifesta-se entre os 30 e 50 anos. As mulheres tornam-se mais propensas a sofrer desse mal durante a menopausa. É raro o diagnóstico em homens e mulheres jovens. Existe um ditado popular bem humorado: “Antes dos 50 é gostoso, depois, é gotoso”.
Uma pessoa pode conviver com ácido úrico elevado durante 20 a 30 anos sem que apareçam os primeiros sintomas de gota.
Alterações dos níveis de ácido úrico no sangue podem causar cálculo renal (sua incidência encontra-se aumentada em pacientes com gota primária que excretem mais de 700 mg/dia de ácido úrico), gota, artrite úrica, insuficiência renal aguda e/ou crônica (cerca 90% dos portadores de gota sofrem de certo grau de disfunção renal), hipertensão arterial etc.
A gota e a hiperuricemia (aumento acima do normal de ácido úrico no sangue) encontram-se associadas a certas doenças subjacentes: obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, nefropatia, hipertiroidismo, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e arteriosclerose.
Na maioria das vezes, a gota manifesta-se numa crise aguda de artrite; é muito comum a primeira articulação do dedo grande do pé ser afetada (cerca de 50% dos casos), posteriormente, o tornozelo, o calcanhar e o dorso do pé. A região afetada torna-se tão sensível que qualquer pressão, mesmo a do vestuário e as das roupas de cama, pode tornar-se insuportável. Após a fase aguda, o paciente pode ficar assintomático durante semanas, meses ou até anos.
A causa mais frequente é a ausência congênita de um mecanismo enzimático responsável pela excreção de ácido úrico pelos rins. Assim, como há uma deficiência em sua eliminação, a concentração de ácido úrico no sangue aumenta. Outra causa, menos comum, é um defeito enzimático que ocasiona um excesso de produção de ácido úrico. No último caso, os rins, mesmo funcionando adequadamente, não conseguem eliminar todo o excesso de ácido úrico que se acumula no sangue.
Alguns medicamentos alopáticos podem diminuir a excreção de ácido úrico pelos rins, como diuréticos e ácido acetilssalicílico.
A crise de gota pode reaparecer por falta de medidas controladoras e preventivas, pela ingestão de alimentos ricos em purina e ácido úrico e a de bebidas alcoólicas, que muito contribui para aumentar significativamente os níveis de ácido úrico no sangue e reduzir a sua excreção, como para aumentar a produção de lactato (substância resultante da oxidação do etanol), o que sobrecarrega e prejudica a função renal. O álcool é um fator precipitante das crises agudas de gota, e a eliminação de seu consumo torna-se necessária. É preciso adotar uma dieta saudável, mais alcalina e vegetariana para se evitar a concentração de compostos ácidos, pois esses contribuem para agravar a gota.
Terapêutica
Sob orientação, acompanhamento e prescrição terapêuticas, o tratamento naturopático envolve:
Repouso – das regiões afetadas, durante a fase aguda, até sua normalização.
Medidas dietéticas – O consumo abundante e regular de água, além de hidratar o organismo, torna a urina mais diluída, o que favorece a excreção de ácido úrico e reduz o risco de formação de cálculos renais. Devem ser evitados carboidratos refinados (açúcares e amidos); frituras e gorduras saturadas; carnes em geral (bovina, suína, peixes e aves); miúdos (fígado, coração, língua e rins); frutos do mar e peixes pequenos (sardinhas, arenque, anchova, mexilhão, cavalinha, camarão e ovas de peixes); queijos; ovos; chocolate; leguminosas (feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha, grãos integrais); tomate com sementes; caldos e ensopados (o ácido úrico é muito hidrossolúvel, quando qualquer tipo de carne é cozido em água, ele se dilui); levedura (levedura de cerveja e do pão); café e chá; alimentos com níveis moderados de proteínas: espinafre, aspargo e cogumelo.
Remédios botânicos – devem ser prescritos de acordo com os sintomas e sinais de cada paciente – Harpagophytum procumbens (garra-do-diabo): anti-inflamatório e analgésico, amplamente utilizado no combate da artrite, gota e reumatismo, reduz o ácido úrico; Echinodorus macrophyllus (chapéu-de-couro): anti-inflamatório, depurativo do sangue, diurético, auxilia no combate da artrite, do reumatismo, das afecções renais e das vias urinárias; Bowdichia virgilioides (batata-de-sucupira): depurativo do sangue, antigotoso e antirreumático; Banisteria argyrophilla (cipó-prata): anti-inflamatório, diurético, indicado no combate das afecções renais e do ácido úrico; Leonotis nepetaefolia (cordão-de-frade): tônico, combate dores artríticas e auxilia na eliminação do ácido úrico; Smilax japecanga (japecanga): antirreumático, depurativo e diurético; Barosma betulina (buchu): diurético, combate excesso de ácido úrico, antisséptico, tônico renal e antilítico (dissolve cálculos renais); Uncaria tomentosa (unha-de-gato): anti-inflamatório, combate artrite reumatoide, melhora as defesas imunológicas, antialérgico e cicatrizante.
Suplementação nutricional – devem ser evitadas altas doses acima de 50 mg/dia de niacina e excessos de Vitamina A, que podem agravar as crises de gota. Devem ser indicados: ácido fólico (inibe a xantina oxidase, necessária à síntese de ácido úrico); ácido pantotênico; betacaroteno; vitamina C (aumenta a excreção de ácido úrico pelos rins; evitar megadoses); vitamina E; zinco (apresenta ação antiinflamatória); Sulfato de Glucosamina (apresenta propriedades benéficas às articulações); coenzima Q10; complexo B; ômega-6 (poderoso anti-inflamatório natural do organismo); quercetina (bioflavonoide indicado no combate da gota, inibe a xantina oxidase e protege as estruturas articulares); bromelaína (enzima proteolítica com intenso poder anti-inflamatório; acredita-se que ela amplie a absorção da quercetina e de outros suplementos e remédios).
Obtenção do pesocorporal ideal – 40% das pessoas que apresentam ácido úrico elevado e encontram-se acima do peso ideal só conseguem obter uma redução substancial do ácido úrico com o emagrecimento.
Eliminação dos fatores precipitantes – bebidas alcoólicas, alimentos ricos em purina e ácido úrico e desidratação.
Acupuntura tradicional chinesa – para o combate da dor (por meio da liberação de endorfinas), do inchaço e da inflamação; para a melhoria da circulação sanguínea e do tchi (bioenergia) e a promoção do relaxamento muscular.
Massagens terapêuticas – com óleos vegetais medicamentados, com propriedades diuréticas, depurativas, anti-inflamatórias, antirreumáticas, que auxiliem na eliminação do ácido úrico e de toxinas.
Texto de Gilberto Coutinho (adaptado)
Fonte: Vya Estelar
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