UFPE revela que substâncias ativas encontradas no alecrim-pimenta são na verdade do fungo que se abrigam na espécie, um arbusto da caatinga
O alecrim-pimenta, um tipo de arbusto nativo da caatinga, é conhecido na medicina popular por suas propriedades antimicrobianas. As substâncias ativas contra microrganismos patogênicos, no entanto, provavelmente não se originam da planta e sim de fungos que se abrigam nela. É o que mostra uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que isolou 207 fungos endofíticos do caule e das folhas da espécie.
Um deles, o Dreschlera dematioidea, se mostrou potente contra os fungos que provocam impigem e pano branco e duas bactérias responsáveis por infecções. A pesquisa, realizada no Departamento de Micologia da UFPE, revelou, ainda, uma espécie nova nas folhas do alecrim-pimenta, batizada pela equipe de Corynespora subcylindrica. A autora do estudo, Virgínia Medeiros de Siqueira, verificou que os 207 fungos pertencem a 14 espécies. Cento e vinte e cinco delas vivem nas folhas e 82, no caule. Ela realizou o trabalho para o mestrado em biologia de fungos, sob a orientação da professora Cristina Maria de Souza Motta.
Segundo Cristina, acredita-se que existam no mundo 72 mil tipos de fungos, dos quais são conhecidos 5%. “Não é todo dia que se descobre uma espécie nova. Fungos são microrganismos e isso dificulta o trabalho”, justifica a curadora da coleção de fungos vivos do Departamento de Micologia da UFPE. Criada em 1954, a micoteca abriga aproximadamente 10 mil culturas de fungos.
Na natureza, os fungos vivem em sua maioria no solo, mas também são encontrados em vegetais, animais, em objetos e até nas nossas roupas. “Causam doenças, mas também são importantes decompositores na cadeia alimentar.”
A relação entre as plantas e os fungos endofíticos, explica a pesquisadora, é do tipo mutualística, em que ambos se beneficiam. A planta ganha proteção. É que substâncias liberadas pelos fungos deixam longe insetos que se alimentam de folhas. Já os fungos encontram alimento e local para se desenvolver. “É uma relação equilibrada. Se os fungos formarem colônias, por exemplo, podem matar a planta. Por isso eles apenas se mantém vivos dentro delas.”
Fonte: Jornal do Commercio, Recife, 8 de junho de 2010, Cidades.