Polêmica em torno deum tratamento alternativo, porém milenar. Adeptos relatam curas e melhorias nosprocessos de enfermidade
Adona de casa Heloísa Ferreira, 62 anos, moradora do bairro Bela Vista, cansadade sentir fortes dores na vesícula e enfrentar constantes internaçõeshospitalares, resolveu encarar a urinoterapia, tratamento alternativo à base deurina. É isso mesmo! Há quatro meses, ela vem ingerindo um copo da própriaurina por dia. E está surpresa com os resultados. Além das dores na vesícula,que, segundo ela, desapareceram totalmente, afirma ter sentido importantemelhora na garganta, que também sempre doía. Na avaliação dela, arrefeceu onervosismo patológico que tinha desde criança, o que gerava sofrimento. E aindagarante ter ganhado disposição para levantar e viver o dia com mais ênfase, jáque sofre de depressão.
Oquadro geral é tão melhor que Heloísa se vê hoje como uma nova mulher, “até nomodo de andar”. “Semana que vem vou fazer exames médicos”, avisa Heloísa. Sópara se certificar sobre o que aconteceu em seu organismo.
Nodia 10 de fevereiro, quarta-feira pela manhã, ela estava entre homens emulheres, de várias idades e aparentemente de diversas classes sociais, àespera de atendimento no Centro Biosaúde, uma casa grande, porém simples,situada no bairro Novo Paraíso II, na periferia de Cuiabá.
Segundoo padre Renato Roque Barth, que responde pelo centro, o que cura não é a urina,mas a mente. “A urina apenas potencializa princípios ativos”, afirma. Ele eoutros oito terapeutas fazem o atendimento ao público, que chega lá comdiversas enfermidades: de dores de cabeça infernais ao câncer; em busca destetratamento, que a medicina alopática ignora e condena. “Ignora e condena porquenão está preocupada com a cura. Para ela, o que gera o lucro é justamente adoença”, vaticina o padre.
Antesmesmo de questionar a seriedade da urinoterapia, a primeira reação geral dequem toma conhecimento deste método é o asco. Ingerir a própria urina? Quemdaria conta disso? “A gente aguentatanta dor com a doença e por tanto tempo e na hora que acha o tratamento vaificar com frescura?”, questiona Heloísa.
Háum paliativo. Antes de começar o tratamento propriamente, durante três dias, opaciente toma chás depuradores que tiram o cheiro e a cor do líquido. Noterceiro dia, o mais difícil é suportar o calor da urina, que pode serconfundida com uma xícara de água morna.
“Vocênão toma cerveja?”, pergunta Heloísa. Cerveja é coisa que ela odeia. “Então! Agente fica com essa resistência com a urina, porque a gente vê e sabe o queestá tomando. Mas eu pergunto: você sabe onde fazem os doces e as comidas que agente come na rua? Se a gente visse tanta sujeira que está por trás disso, nãodiria mais: ai que delícia!”
Oirmão dela teve um derrame. Estava mal. Também fez a urinoterapia. Agoraninguém diz que quase morreu. “Anda para todo lugar, vai a bancos, recuperou asforças.”
Todosos pacientes que chegam ao Biosaúde têm resultados positivos. A questionávelestatística é do padre Renato. Ele, porém, repete que uns ficam maissatisfeitos, outros menos. “Pessoas com doenças graves, como câncer e aids, quechegam aqui muito judiadas, vão ter uma melhora significativa, mas o corpo podejá não dar conta de reagir até a cura.” A esses, muitas vezes a orientação épara tomar toda a urina que sair até a hora do almoço.
Aintegralidade do tratamento é assumida pelo paciente, que é inclusive quem fazo diagnóstico de si mesmo, após uma longa conversa inicial com um dos noveterapeutas que compõem a equipe de atendimento.
Parapadre Renato, o que os outros pensam sobre isso não importa. Ninguém é forçadoa tomar urina. Ninguém é obrigado a fazer nada. Quem quiser que esqueça esseassunto, entre na próxima drogaria e compre mais uma dose.
Benefíciosdo barro – Além da urina, o Centro Biosaúde também indica a argila.
PadreRenato explica que a urinoterapia, a fitoterapia e o tratamento à base de barrosão técnicas milenares, oriundas no Japão e na Índia, mas, na história recente,quem reacendeu esses métodos no Ocidente foi o Doutor Uriu. “A urinoterapiaconsta nos livros sagrados dos Vedas; há 105 versículos ensinando como usar aurina”, diz ele. Isso remonta dois mil anos a.C., no tempo de Abraão. “Eracostume popular.”
Porémessas técnicas salutares aparecem, segundo ele, durante toda a linha dahistória da humanidade, sendo abafadas fundamentalmente após 1850, quando éregistrada a primeira farmácia alopática. A partir daí, lamenta o padre, omundo foi se enchendo de farmácias e nós de doenças. “No Ceará, uma irmã cristãfez uma pesquisa em comunidades e verificou que muita gente lá toma urina.Indígenas também são adeptos, algumas etnias.”
PadreRenato ensina ainda que hábitos alimentares podem potencializar o tratamento ouprejudicar. Não comer carne, seja vermelha ou branca, é uma das indicações.Outra dica é dizer não aos refrigerantes. “Respeitando seu corpo e o corpo dosanimais, fica aí uma lição de equilíbrio e harmonia entre os seres vivos”, dizo padre. Fazer jejum por um ou dois dias por semana também é indicado.
Aurinoterapia, a fitoterapia e o tratamento com barro vão além de um tratamentode saúde. A proposta é filosófica, de harmonia do corpo, da mente e doespírito. Nas palavras do padre Renato: “Um caminho de liberdade e saúdefísica, emocional, psíquica e espiritual. E, portanto, de felicidade”.
Convidadoa se manifestar em acordo com os preceitos da Igreja Católica, o arcebispo deCuiabá, Dom Milton Santos, se mostrou aberto ao processo de cura proporcionadopela urinoterapia. “Não tenho, pessoalmente, nenhuma restrição até o momentosobre os serviços prestados pelo Centro Biosaúde quanto ao tratamento deurinoterapia. A Igreja Católica respeita quem faz o tratamento e quem presta oserviço: precisa ser com excelência!”, disse o arcebispo.
Fonte:Revista Sina (texto adaptado)