Estudos recentes provaram que a aspirina, além de tratar a dor de cabeça, é capaz de prevenir problemas cardíacos. Três estudos publicados no periódico médico Lancet e no Lancet Oncology mostram que o medicamento também pode ajudar a prevenir e tratar o câncer. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford e do Hospital John Radcliffe, na Grã-Bretanha, analisou dados de 51 estudos que tinham como objetivo pesquisar o efeito da aspirina na prevenção de problemas cardiovasculares.
Com base nesses dados, descobriram que o uso diário de aspirina reduziu o risco de morte por câncer em 15%. Entre quem consumiu por mais de cinco anos o medicamento, o risco diminuiu em 37%. O número de mortes por câncer também foi reduzido em 12%. A ingestão diária de aspirina em pequenas doses (75 miligramas) reduziu a incidência de câncer em 25% para quem a consumiu por três anos ou mais, de modo semelhante em homens (23%) e mulheres (25%).
A segunda pesquisa mostrou os efeitos da aspirina no crescimento do câncer, a partir de dados de pacientes que desenvolveram câncer durante os estudos. Os dados comparam os pacientes que tomavam doses diárias de aspirina (75 miligramas ou mais) com o grupo controle, que não consumia o remédio. Mais uma vez, os resultados foram animadores.
O risco de metástase distante (quando o tumor se espalha para órgãos que ficam longe do tumor primário) foi reduzido em 36%, o risco de adenocarcinoma (tipo de câncer que começa em tecidos glandulares) em 46%. Outros cânceres, como de rim e bexiga, tiveram um risco reduzido de 18%. O estudo acompanhou os pacientes por, em média, seis anos e meio.
A aspirina ainda reduziu a morte em pacientes que tiveram adenocarcinomas (sem metástase) pela metade. Também houve uma redução de 35% do risco de desenvolver um adenocarcinoma fatal. Neste estudo, os efeitos da aspirina independeram de idade e sexo, e foram observados mesmo quando as doses foram baixas. Segundo os autores do estudo, as descobertas registradas constituem a primeira prova de que a aspirina previne o desenvolvimento de metástases distantes. No terceiro estudo, publicado no Lancet Oncology, foi observada uma redução de 38% no risco de câncer colorretal e índices similares para o câncer de esôfago, de mama e gástrico.
Apesar das várias e convincentes evidências dos benefícios da aspirina na prevenção do câncer, ainda não é recomendado que as pessoas tomem o medicamento sem indicação médica. A aspirina tem diversos efeitos colaterais, e, mesmo em doses baixas, pode provocar sangramentos gástricos e outros problemas.
As descobertas de Rothwell e sua equipe, porém, deixam a recomendação para o uso da aspirina não só na prevenção de doenças cardiovasculares, mas também para o câncer, cada vez mais próxima.
Opinião do especialista
Oren Smaletz, oncologista e coordenador da pesquisa clínica em câncer do Hospital Albert Einstein, em São Paulo
Os dados dos estudos são bastante instigantes. Mostram que talvez valha a pena usar a aspirina não apenas para prevenir problemas cardiovasculares, mas também para prevenir o câncer.
Antes que essa recomendação se torne regra, porém, são necessários outros estudos focados especificamente na relação entre a aspirina e o câncer. Os estudos publicados no Lancet são o que chamamos de meta-análise, que usam dados de estudos voltados para outros propósitos - neste caso, os estudos originais investigavam a relação entre aspirina e doenças cardiovasculares.
É importante ressaltar que, mais importante que tomar aspirina para reduzir o risco de ter câncer, deve-se controlar os fatores de risco para a doença, como o tabagismo e a alimentação pouco saudável.
Há também casos em que a administração do medicamento é altamente contraindicada. Portato, antes de sair tomando aspirina, é melhor consultar seu médico.
Fonte: Veja (texto adaptado)